quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Sob o Crepúsculo


A Era do Caos. O infortúnio governava os tempos. Os negros Senhores da Guerra comandavam o mundo. A terra era diariamente banhada em sangue. Esta era apenas mais uma das batalhas de resistência, mas a presença de dois seres poderosíssimos mudaria o destino de muitos... 


...a névoa sobrevoou o campo de batalha. Vários corpos acumulavam-se pela planície, dando à paisagem um aspecto desolador. Apenas dois combatentes se mantinham intocavelmente de pé. Vingaard, o mais cruel de todos os Senhores da Guerra. Kirrnodel, o mais altivo de todos os dragões prateados. Era chegada a hora da batalha final. 

Vingaard levantou seus acinzentados olhos desafiadoramente para o dragão. Um raio do sol do entardecer iluminou sua negra armadura por um instante. Um vento gélido esvoaçou lentamente seus longos cabelos negros e sua capa escarlate. Ele ergueu sua pesada espada, entalhada de runas e incrustada de gemas preciosas, como que convidando o dragão a atacar primeiro, demonstrando uma ausência total do medo aterrador que os 
dragões inspiram. 

Kirrnodel meneou a cabeça com dignidade e os últimos raios de sol do dia também iluminaram seu torso metálico. Suas escamas reluziam como prata líquida, suas enormes asas estendiam-se majestosamente e seus olhos, como orbes de mercúrio, cintilavam emoldurados por dois longos chifres que brotavam de sua cabeça. Suas garras afiadas movimentaram-se rapidamente e cravaram-se em algo a sua frente. Estava acabado - pensou. 

Instantaneamente uma dor aguda atingiu-lhe a pata. O Senhor da Guerra aparava, em um escudo em seu braço esquerdo, as mortais garras, enquanto com o direito golpeava o dragão. Ambos recuaram pelo choque e Kirrnodel não perdeu tempo em abrir a boca em um sopro feroz. Era necessário acabar com aquilo o mais rápido possível e nada melhor que para isso que um frio sopro direto. Vingaard respirou fundo. A essa distância estaria mortalmente congelado se não tivesse sido rápido o suficiente para conjurar uma muralha de energia. Era um guerreiro experiente e um mago muito competente e não lhe agradava ser derrotado, nem pelo mais venerável dos dragões. A derrota não lhe atraía de forma alguma. Ele gostava de poder e ambicionava ainda mais derrotar o dragão para tornar-se mais poderoso e temido. E com esse pensamento mordaz atacou novamente. 

O grande ancião dracônico espantou-se momentaneamente com a habilidade de seu adversário. E já vivera muitas batalhas antes. Mas essa era necessário vencer. Era imprescindível acabar com essa era transtornada e livrar os fracos dessas cruéis mãos dominadoras. E assim, quem sabe, voltar ao seu covil para apreciar o tesouro que recolhera em todos esses longos e muitos anos. Foi com esse pensamento que Kirrnodel aparou o golpe da espada inimiga e contra-atacou. 

Faíscas cobriam o cair da noite enquanto a lâmina resvalava nas resistentes escamas e as garras riscavam a reforçada armadura. Ocasionalmente respingos de sangue salpicavam a terra já carmesim, quando uma pequena brecha surgia em ambas as defesas. Raios e chamas cruzavam os céus, magias que quase sempre eram rechaçadas sem causar muito dano. Essa porfia perdurava por horas, ou assim pareceu aos combatentes, quando um corvo grasnou nos céus. 

Foi apenas um instante de distração. O grito sufocado do guerreiro foi inaudível. O sangue jorrou do peito quando a garra foi retirada. Ao mesmo tempo em que o corpo tombava para frente um uivo magnífico foi ouvido. O ruflar de asas indicavam que Kirrnodel partia para outra batalha. No chão apenas um esquife de gelo onde repousava um oponente digno da reverência de um dragão.

Paula Andrade