quarta-feira, 30 de julho de 2008

O Poder das Sombras - Paula Andrade

O Poder das Sombras
(Paula Andrade)

Era noite alta. Pequenos astros brilhantes cobriam o céu e lua crescente exibia sua tímida luz cintilante. Uma pata macia esmaga um pequeno galho, revelando a posição da pantera negra. Sua cabeça de olhos amarelos fendidos balança levemente, farejando ao redor. O cheiro de carne podre logo alcançou seu faro sensível. Ele ainda a seguia.
Uma figura curvada destacou-se entre a luz filtrada pelas árvores. Sua respiração rascante mostrava claramente sua natureza semimorta. Mesmo assim sua aparência frágil trajada de negro inspirava pavor. Sua simples presença repentina fazia com que os oponentes fugissem horrorizados. As forças que invocava faziam chover fogo e queimavam e corrompiam a própria alma. Ele sentia prazer no terror e estava se deliciando com o medo de sua odiosa inimiga. Com mais alguns passos avistou uma sombra alongando-se e tomando a forma de uma mulher. Pelo visto sua presa resolvera lutar.
Um brilho verde propagou-se em meio ás árvores, atingindo um galho próximo. O feiticeiro negro notou o quanto era inexperiente sua oponente. Não incomodaria as trevas profundas invocando um de seus seres para derrotar essa inimiga imatura, usaria somente seu poder interior para convocar as chamas eternas.
Entre os galhos uma figura feminina esguia de longas orelhas tentava camuflar-se, esperando o melhor momento para atacar ou se necessário, fugir. Essa idéia não lhe agradava, mas era melhor correr e ter uma segunda oportunidade do que morrer sem oferecer resistência. Notou que seu oponente parecia subestimá-la e tomou este momento como o certo para atacar.
A floresta reagiu ao chamado da elfa e galhos e ramos enredaram-se e enroscaram-se na figura semimorta, restringindo seus movimentos. Quase ao mesmo tempo um urso enorme jogou-se em sua direção, ferindo-o com suas patas com garras afiadas. O homem de negro sentiu o impacto do golpe físico em sua estrutura frágil. Profundamente abalado por ter sido atingido, conjurou imediatamente seu fogo mortal sobre sua atacante, que urrou de dor e preparou-se para um novo ataque, com o corpo ainda em chamas.
Nesse instante a magia de aprisionamento cessou e a criatura esquelética afastou-se do grande urso, colocando-se longe do risco físico. Utilizou mais uma vez sua aterradora presença que amedrontou a jovem elfa transmutada, fazendo com que se afastasse do homem. Este aproveitou o momento para lançar várias maldições sobre a pobre criatura que fugia.
Percebendo que não teria chances a elfa retornou à forma de pantera enquanto corria pela mata fechada, arranhando-se, fraca pelas imprecações mágicas lançadas sobre ela. Após um breve tempo a pantera negra ouviu uma maléfica risada. Conseguiu dar apenas mais alguns passos e tombou.
Logo atrás, iluminado palidamente pela lua e o brilho fraco das estrelas, o feiticeiro cinicamente acenava, humilhando mais um oponente indigno de seu poder.

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