quinta-feira, 30 de abril de 2009

A Banda - Paula Andrade

“Eu não me lembro de nada daquela noite.” Foi o que eu disse aos policiais, mas essa não é bem a verdade...

Era minha formatura do colegial, minha festa tão esperada! Eu não sou exatamente uma beldade, mas estava até bem atraente no meu vestido longo vermelho. A festa estava ótima. Todos aguardavam a banda: Cubbus In. Nome estranho, ainda não consigo entender. O importante era que a banda era formada também por formandos, os formandos mais estranhos do colégio. Todos absolutamente lindos e reclusos. Nunca conversaram mais que o essencial com o colégio inteiro: “com licença”, “me desculpe”, “qual o dia da prova de física?” e essas coisas indispensáveis na escola. Eu sempre tentei conversar com eles, em especial com o Gabriel, o vocalista da banda. Cabelos negros na altura dos ombros, olhos acinzentados, sempre vestido em tons escuros que realçavam sua pele branca. Simplesmente maravilhoso.

Me lembro deles subindo no palco, a galera se agrupando para ver, todos curiosos. O Gabriel estava mais bonito que o normal, se é que era possível. E então eles começaram a tocar. A partir daí todas as minhas memórias são embaçadas...

O ritmo começou leve e foi aumentando rapidamente e alguma coisa se apossou de mim. Eu estava paralisada, mas ao mesmo tempo um desejo louco me consumia. Eu me lembro difusamente do baixista da banda, o Rafael, se aproximando de mim. Uma dor no meu braço, junto com o hematoma que restou, me dizem que ele me segurou firmemente. E eu ouvi a voz do Gabriel “Ela não, ela é minha!”. Então ele se aproximou. Meus lábios ainda doem, uma semana depois. Eu correspondi ardentemente aos seus beijos ferozes e a suas carícias que machucavam. Mas eu me sentia possuída e nenhuma dor me atingia. Vagamente me lembro de todos a minha volta se entregando a esse desejo instintivo, não importa com quem estivessem. Os outros membros da banda, Mikael e Samuel, iam de pessoa a pessoa, como que procurando algo. Eu parecia estar mais desperta que qualquer um, embora me entregasse às mãos de Gabriel. De fato, creio que apenas eu menti para a polícia e realmente ninguém se lembrava de nada.

Mas o que eu iria dizer? Que durante o tempo de uma música, que lembro ter continuado a ouvir, mesmo que os membros da banda não mais tocassem, todos na festa pareciam enfeitiçados e entregavam-se uns aos outros como que revivendo os antigos bacanais? Quem acreditaria nisso? E o que dizer então das pessoas que desapareceram, que foram o motivo do envolvimento policial? Eu absolutamente não me lembro de ninguém deixando o salão, só novamente a voz angelical do Gabriel dizendo “Ela não, deixe-a, já temos o suficiente”. No entanto, 11 pessoas desapareceram, entre elas os 4 membros da Cubbus In. Mas ninguém parece suspeitar deles. São apenas contabilizados no número de desaparecidos e o ocorrido está sendo atribuído a um grupo de psicopatas qualquer, que a polícia ainda investiga.

Eu acordei, amanhecendo já, com a polícia no local. Meu corpo inteiro doía, embora os hematomas só aparececem mais tarde. Minha boca sangrava. Todos os outros possuíam algum nível de escoriação. Eu imediatamente procurei pelo Gabriel, seu gosto doce ainda na minha boca. Mas ele havia desaparecido, como eu logo compreendi.

Bem, eu gostaria de ter ido com ele...não importa o que eles eram ou o que procuravam. Nem o que seria feito daquelas pessoas, que acredito que eles levaram. Eu só queria estar com ele, pois por mais aterrorizante que tenha sido o meu baile de formatura, ainda foi a melhor noite da minha vida...

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